Nossa cultura patriarcal e racista oprime a mulher em vários aspectos de sua existência. Na ginecologia, em particular, a cultura patriarcal é especialmente cruel com as mulheres. Não conhecemos e nem tocamos as diferentes partes de nosso corpo, não sabemos como são nossos orgãos e as mudanças que se passam ao longo da vida, a menstruação se tornou uma praga e estamos tão desconectadas dela quanto de outros ciclos da natureza. Vestimos a culpa e a vergonha que o patriarcado usa para tirar nosso poder criativo de mulher, de sábia, de mãe, de cuidadora, de guerreira, de bruxa e tantos outros poderes que já gozamos em outras épocas da história.
Nesses anos que tenho trabalhado com atendimentos em Medicina Tradicional Chinesa, fiquei surpresa com a quantidade de mulheres com desordens ginecológicas, sexuais e reprodutivas. A maioria das mulheres tinham questões de baixa gravidade, mas não encontravam na medicina convencional respostas ou tratamentos efetivos, convivendo por anos com desordens de repetição como infecções urinárias, crises de candidíase, dores no período pré menstrual, espinhas, oscilações emocionais, falta de libido, sensações como dores nas costas, peso nas pernas, falta de concentração ou vontade de chorar. E isso é só o começo.
Muitas dessas mulheres têm pouca ou nenhuma informação a respeito do seu próprio ciclo, suas mudanças hormonais e fisiológicas ao longo da vida. A maioria nunca observou a própria vulva, o colo do útero, e pouco sabe sobre a masturbação, suas zonas de prazer, como é seu clitoris anatomicamente, os ciclos da lua e do corpo, como utilizar elementos da natureza na promoção e recuperação da saúde. Mas o conhecimento feminino não é só acadêmico. Está junto com o sentir profundo: como está meu útero, como está meu ovário, meus seios. Quando me conecto e sinto fico, cada vez mais próxima de mim mesma.
Para isso é fundamental a escuta: escutar meus órgãos. O útero está no segundo centro de energia, ele é o centro de poder e prazer, muitas mulheres tem que sarar o útero para recuperar o prazer. Muitas de nós têm histórias dolorosas que envolvem nosso aparelho reprodutivo. Histórias de abusos de desconhecidos, parentes e parceiros marcam profundamente a mulher, e no aparelho reprodutivo acabamos guardando essas histórias de bebês não nascidos, partos, prazeres e desprazeres, cicatrizes. Todos esses registros estão ali.
Nas medicinas não convencionais corpo e mente são um só. Quem cuida e acompanha mulheres sabe que as desordens ginecológicas quase sempre estão relacionados a questões emocionais. Nestas práticas as emoções e sentimentos estão diretamente ligados com as desarmonias e saúde de nossos sistemas internos.
A ginecologia infelizmente não tem dado ouvidos para uma escuta cuidadosa e carinhosa de tudo que se passa com aquela mulher, desde sua infância até o momento presente, seus traumas, de que forma lida com seus problemas, como se relaciona, o que sente e como sente e em que momentos as desordens pioram e melhoram. Muitos desequilíbrios surgem de relações conflituosas ou abusivas, do ciúmes, da possessão ou de passar longos períodos anulando o que se sente, das tristezas e perdas que não conseguiu lidar ou trabalhar, da diferença que recebe da sociedade patriarcal em relação ao seu trabalho e ao seu rendimento financeiro, das frequentes depêndencias econômica e emocional.
Os sintomas começam como mensagens que nosso organismo nos envia alertando que o consciente não está percebendo ou tomando uma atitude em relação a alguma questão que merece atenção ou mudança. Esses sintomas podem nos indicar que o trabalho não está legal, que estamos passando do nosso limite de stress, que nossa alimentação não está nutrindo nosso organismo, que nossos sonhos e aspirações não estão sendo atendidos e muitas outras mensagens.
Não é incomum a mullher deixar de ir no ginecologista por trauma de violências sofridas dentro de consultórios, foram tantas histórias que escutei, chorando por não entender essa sociedade que pune as mulheres somente por terem nascido mulheres. A mulher muitas vezes é infantilizada, colocada como incapaz de decidir sobre seu próprio corpo e frequentemente assediada sexualmente e julgada sobre sua conduta ou escolha sexual. São perguntas íntimas que te colocam em grupos de risco, são inserções doloridas e ríspidas do espéculo (principalmente quando se é lésbica, trans ou negra), são exames desnecessários e feitos sem a mínima orientação e consentimento da paciente, e assim algumas mulheres deixam de ir a uma consulta ginecológica por 4, 6, 10 anos, e assim sua vida é colocada em risco. Mas o trauma não deixa opção.
Relato durante oficina de Auto Ginecologia realizado pelo Coletiva MIAU: “São muitas violências, você vai no ginecologista e ele manda tirar toda a roupa para se pesar, você começa a achar estranho e percebe que para mais ninguém ele pede para tirar a roupa. Numa dessas consultas ao tirar a roupa para me pesar ele comenta no meu ouvido: também com esse corpo só poderia estar grávida mesmo.” (Mulher, negra e mãe, sobre as violências e abusos cotidianos da sexualização da mulher negra).
As mulheres muitas vezes entraram para consulta com uma lista de dúvidas, querendo se entender, conversar sobre o que passa consigo, o que sente. Mas se não for uma consulta particular com um/a profissional ginecologista, provavelmente não terá o tempo necessário para sanar todas as necessidades que quer discutir com a/o profissional. As/os ginecologistas do plano de saúde não podem atender seus pacientes com o tempo necessário, pois também cairam numa armadilha: o valor repassado pelos planos de saúde é muito baixo, o que obriga a/o profissional a atender diversos pacientes em uma hora para poder continuar a exercer sua profissão.
Muitas vezes a mulher gostaria de alternativas de tratamentos para suas questões que não se resumissem em pílulas anticoncepcionais e antibióticos de todas as classes. Muitas mulheres que acabaram de ter sua menarca, que não têm vida sexual ativa, saem do consultório com uma cartela de amostra grátis de anticoncepcional para resolver suas espinhas, sua alteração de humor durante a menstruação, seu mioma, sua síndrome do ovário policístico, sua menstruação dolorosa, sem entender o que acontece consigo, sem orientação para pausas regulares da medicação, sem saber se isso é tratamento ou paliativo. Não sabem as consequências do uso da pílula e se seu uso pode interferir na sua fertilidade quando quiser engravidar, não são alertadas das mudanças que a pílula e outros dispositivos com hormônios podem causar, como uma maior acidez da vagina e assim maior propensão a candidíase, ou diminuição da libido. Muitas vezes não é perguntado o histórico vascular familiar daquela mulher, e a pílula tem sido prescrita colocando em risco a vida dessas mulheres.
E quanto às questões de sexualidade, a história também não é diferente. Atendi mulheres de 17 a 70 anos e muitas não conhecem seu próprio corpo, têm vergonha ou medo de se tocar. Não foram poucas que me trouxeram histórias nas quais se colocaram em risco de transmissão de DSTs por pura falta de informação. Algumas dessas mulheres eram universitárias, o que mostra que não se trata somente de uma questão de classe ou informação: o conhecimento é negada para a mulher.
Sabemos mais a respeito do pênis do que da vagina, não nos olhamos no espelho, não nos tocamos, somos repreendidas por sentar de pernas abertas, por não usar calcinha, por tocar sua própria genitália. Isso tudo tem um preço, e quem paga somos nós.
No momento do parto a mulher passa não somente por uma, mas por várias violências. A começar pela cesária eletiva que muito agrada todas as equipes médicas: tem dia e hora para começar e acabar, muitas vezes sem um consentimento consciente da mulher que escolhe essa “modalidade” por pressão da equipe médica ou para escapar do terror instaurado pelo modelo de parto normal convencional. Durante o parto ocorrem violências como a obrigação de ficar na posição litotômica (deitada), o que não facilita e nem alivia a mulher durante o parto, passando pela famosa episiotomia (para quem tem estomago forte procure vídeo do procedimento), até o absurdo de levarem a criança que só retorna muitas horas depois, sem ter mamado. Também é comum a negação do direito à vocalização durante o parto e comentários como: “Não foi bom na hora de fazer? Agora aguenta”. Ou então a utilização de substâncias como a Ocitocina no soro, sem que a paciente saiba ou dê consentimento, apenas para que a equipe não precise ficar muitas horas dando assistência. Isso só para citar algumas violências, entre tantas outras.
Diversas alterações do nosso sistema reprodutivo e sexual vem de pequenos erros cotidianos que poderiam ser facilmente evitados. Temos que lembrar de urinar após a relação sexual, de nos limparmos no banheiro sempre na direção da vagina para o ânus, de deixar a roupa íntima exposta no sol após a lavagem, de não ficar com roupa íntima úmida por períodos prolongados, de não usar roupas sintéticas ou apertadas. Temos que exercitar a percepção de que o que ingerimos reflete nossa saúde, que a falta de horas de sono suficiente, o stress, a ansiedade e todas nossas emoções interferem diretamente na saúde de nosso organismo, e que os verdadeiros remédios que que vão nos livrar desses males, são a auto-observação e autorreflexão cuidadosa acerca dos diversos aspectos da vida como família, trabalho, atividade física, realização profissional, propósito de vida e relacionamentos. E o ideal é que culmine em mudanças de hábitos e rotinas que podem estar prejudicando a saúde. Mudança, por exemplo, para uma alimentação própria para seu organismo, para ter tempo para lazer, prazer, cuidar da sua saúde mental e emocional, se preciso com ajuda de profissionais da psicologia ou outras terapias, para o desenvolvimento da sua criatividade com música, dança, pintura e também dando atenção para sua espirituralidade sendo através de religião, meditação, rituais, plantios ou da forma que isso se manifestar para você. Através dessa reflexão a mulher pode realmente alcançar a cura efetiva tratando os problemas na raiz, ao invés de ficar combatendo somente os sintomas daquele organismo que está desesperadamente mandando um sinal de que algo não está bom e precisa ser modificado.
Não queremos substituir a/o profissional médica/o ginecologista. Muito pelo contrário, com mais informação e autoconhecimento a mulher vai se empoderando, passa a gostar e cuidar melhor do seu sistema reprodutivo, fazendo sua visita regular ao ginecologista e se sentindo segura de procurá-lo também quando percebe que algum desequilíbrio mais sério está surgindo. E para viver sua plenitude na saúde, no seu prazer e na forma que lida com suas emoções sabe que pode contar com outros profissonais.
Para as mulheres que se sentem chamadas a fazer esse trabalho de disseminação de conhecimento sobre auto cuidados da saúde ginecológica auxiliando outras mulheres a descobrirem e se conectarem com seus ciclos, suas fases e como utilizar elementos da natureza para promoção e manutenção da saúde ginecológica, estamos trazendo esse curso que capacita facilitadoras nesse processo de auto observação e cuidados.
O curso é composto por 2 módulos, o primeiro acontecerá de 11 a 14 de Agosto de 2016 em São paulo. Vamos aprender sobre a fisiologia humana, alimentação, fertilidade e contraceptivos naturais, absorventes internos e coletores, princípios da medicina chinesa para saúde da mulher, técnica de colocação de espéculo, fitoterapia, propostas de tratamentos e como transmitir isso a outras mulheres. Na parte prática, aprenderemos a fazer emplastros, chás, tinturas, óleos e manteigas vegetais, desodorantes, e também como utilizar moxa, argila, limpeza uterina, escalda-pés, óvulo vaginal, babosa, yogurt e lactobacilus, banho de assento e etc. Cada participante sairá do curso com material impresso e alguns itens para iniciar sua auto investigação como espéculo descartável, espelho, moxa, e algumas amostras de preparados realizados durante o curso.
Para mais informações e incrição: ginecologia@partilha.se
Página do Evento:
https://www.facebook.com/events/824046991073218/
Material para baixar:
http://partilha.se/…/plantas_medicinais_sa%C3%BAde_feminina…
https://we.riseup.net/assets/262349/fiqueamigadela1.pdf
Textos e blogs sugeridos:
http://www.ladoocultodalua.com/…/la-embaixo-parte-1-voce-c…/
https://meucorpomeusangue.wordpress.com/…/a-revolucao-come…/
https://casadeamaterasu.wordpress.com/…/pequeno-manual-de-…/
https://lagat4ylaurn4.wordpress.com/
http://www.mariallopis.com/
https://we.riseup.net/ginecologiafeminista
http://www.vice.com/…/las-gynepunks-traspasan-los-limites-d…
http://trotulacritica.blogspot.com.br/
http://inicio.aavp.es/
https://ginecologianatural.wordpress.com/
http://www.moongirlsclub.com/…/pequena-compilacao-de-inform…
https://caminhonatural.net
http://matricaria.com.br/h
http://bruxariadistro.com/biblioteca1/fiqueamigadela1.pdf
https://soniahirsch.com.br/
http://beautifulcervix.com/
https://soy1soy4.com/
https://uterinablog.wordpress.com
Vídeos:
https://www.youtube.com/watch?v=iR9E7h__CLU
https://www.youtube.com/watch?v=ob0fdda3ujk
https://www.youtube.com/watch?v=Wmcu2mYZdRY
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O Curso:
A formação é destinada a toda mulher com vontade de adquirir conhecimentos e prática em relação à promoção e proteção da saúde ginecológica com uma abordagem holística, tendo como princípios o auto cuidado ginecológico e o empoderamento das mulheres.
A formação capacita a mulher para acompanhar processos de empoderamento feminino, alcançando desta forma, maior autonomia e poder de decisão sobre os processos de saúde-doença nas mulheres, não substituindo em nenhum momento a consulta com o profissional médico.
Durante o desenvolvimento da formação será compartilhado conhecimento sobre anatomia e fisiologia do aparelho sexual e reprodutivo feminino, princípios básicos de fitoterapia e o uso de outros elementos da natureza, alimentação consciente, consciência corporal, identificação de desequilíbrios emocionais e fisiológicos, mudanças concretas de hábitos e estilo de vida e outras terapias integrativas e complementares de tratamento que ajudem a promover e manter o equilíbrio ginecológico. Será proporcionanda uma visão integral da mulher para que possa identificar e tratar desequilíbrios de forma que não voltem a aparecer.
O curso é composto por 2 módulos (não sequenciais) com 4 dias de duração com 8h de atividades obrigatórias por dia para obtenção da certificação. Serão propostas 2 horas adicionais de programação cultural e/ou física opcional por dia.
Facilitadoras:
Liliana Pogliani – Formada em Obstetrícia pela Universidad de Buenos Aires, facultad de Ciencias Médicas 1992.
Karine Batista – Terapeuta em Medicina Chinesa e Shiatsuterapia.
Valores do 1˚ módulo:
Nos valores estão inclusos:
Curso de Formação em Ginecologia Natural
Material do curso
Hospedagem do dia 10 de agosto (a partir das 19h) ao dia 14 de agosto (até as 18h)
Alimentação vegetariana do dia 11 de agosto até o dia 14 de agosto.
Formas de pagamento do 1º módulo:
R$ 1.400,00 (valor com desconto, 3 parcelas em maio, junho e julho):
1ª parcela: R$ 465,00 até 15 de maio (15/05).
2ª parcela: R$ 465,00 até 10 de junho (10/06).
3ª parcela: R$ 470,00 até 10 de julho (10/07).
R$ 1.600,00 (valor com desconto, 3 parcelas em junho, julho e agosto):
1ª parcela: R$ 530,00 até 10 de junho (10/06).
2ª parcela: R$ 530,00 até 10 de julho (10/07).
3ª parcela: R$ 540,00 até 10 de agosto (10/08).
R$ 1.800,00 (valor integral, 2 parcelas em julho e agosto):
1ª parcela: R$ 900,00 até 10 de julho (10/07).
2ª parcela: R$ 900,00 até 10 de agosto (10/08).
Público Alvo:
Mulheres maiores de 18 anos.
Certificação:
Para receber a certificação de “Facilitadora em Ginecologia Natural”, a participante deve participar de 100% das horas do curso e ter aprovado um trabalho de conclusão final.
O curso será realizado em 2 módulos de 4 dias de formação cada com 8h de atividade obrigatória por dia.
Carga horária presencial total e obrigatória dos 2 módulos: 64 horas.
Inscrição:
Para realizar sua inscrição e receber informações completas sobre o curso ou ainda se inscrever no nosso mailing para uma próxima edição, envie para o e-mail:
ginecologia@partilha.se